Arte periférica e imaginação

As tramas da arte permitem nesses espaços limítrofes a emergência de subjetividades desconhecidas e paisagens outras. Aqui uma imagem intervém o tecido do comum...

Elizabeth Pozo Rubio

5/8/20242 min ler

Arte periférica e imaginação

A arte emergente do Sul Global situa-se no coração das assimetrias que limitam as nossas vidas. Nestes locais, longe dos centros de poder, a imaginação torna-se uma ferramenta poderosa. Aqui, os artistas criam cortes distópicos que reflectem crises e ansiedades, transformando a realidade em algo novo e significativo.

Estas zonas intersticiais são como bordas vibrantes, onde a humidade tropical dilui os discursos dominantes. Nestes espaços, as possibilidades de expressão e criatividade são reconfiguradas. As periferias das sociedades de consumo estão repletas de vozes diversas: migrantes, sujeitos laterais e aqueles cujas vidas dependem de estratégias precárias. Em contextos pós-coloniais, muitas pessoas são deixadas para trás na distribuição de recursos, mas a arte surge como um farol de expectativas.

Nestes espaços fronteiriços, a criação permite o aparecimento de subjectividades desconhecidas e de paisagens alternativas. Cada obra funciona como um fio que tece a história colectiva, mergulhando nas camadas do passado e dando-lhes nova vida. A estética nestes momentos descentrados recupera o corpo nu das lógicas simbólicas que procuram controlar e limitar.

Os gestos criativos ressoam com expectativas quebradas. Interrompem a monotonia da realidade e permitem que o voo livre pessoal se exprima no meio de rotinas de subalternização e exclusão. Através da arte, as memórias esquecidas são activadas, transbordando normas rígidas, alargando o familiar a horizontes insuspeitados.

Mobilizar esta energia silenciada permite-nos reciclar utopias perdidas. A cor regressa a paletas esquecidas; o corpo encontra o seu lugar numa superfície que o sustenta. Ao participar na criação do significado do que vemos, os artistas oferecem-nos um espaço de auto-criação face a experiências fragmentadas.

Nestes lugares do Sul, a arte não só desafia as narrativas hegemónicas, como também actua como um espelho que reflecte as nossas lutas quotidianas e sonhos partilhados. Cada obra é um ato de resistência, uma afirmação que procura reconfigurar a paisagem cultural a partir das suas raízes mais profundas.

Obra de Yoxi Velázquez: Escena #5. Paisaje 5. La nube, 2013